Jornal de Medicina e Saúde

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04 abril 2006


Investigação sobre os Efeitos dos Media nas crianças
Exposição excessiva a programas e vídeo-jogos violentos é prejudicial

O excessivo visionamento televisivo de programas violentos e interacção com jogos de vídeo do mesmo tipo comprometem o desenvolvimento social e físico das crianças, sugerem alguns investigadores.
“Descobrimos que quanto mais televisão elas vêem, menos tempo gastam com os seus amigos,” explica David S. Bickham, investigador do Center on Media and Child Health da Harvard School of Public Health, muito embora, segundo afirma, “esta relação só seja verdadeira” no caso da televisão violenta.
Segundo outro estudo, os vídeo-jogos violentos podem ser prejudiciais para as crianças. Na base desta influência, está a sugestão de comportamentos de risco, a partir dos conteúdos dos jogos de vídeo, que incluem, frequentemente, imagens e linguagem sexuais explícitas, não constando esta caracterização de jogo no rótulo do mesmo.
Estes estudos inseridos na área dos efeitos dos media nas crianças foram publicados no Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine de Abril, e foram citados, ontem, pela Reuters Health. Bickham e um outro colega estudaram o impacto do visionamento televisivo de programação violenta na integração social de 1.356 crianças, com idades compreendidas entre os 6 e os 8 anos.
Os investigadores constataram que existe uma relação entre os níveis de isolamento social entre as crianças e os seus elevados níveis de exposição a programas televisivos violentos. E há, segundo afirmam, um efeito da “televisão violenta” nas crianças que se traduz no aumento da agressividade, e que se encontra intimamente ligado ao de isolamento. Ou seja: “As crianças estão a ver televisão violenta, estão a tornar-se mais agressivas, e essa agressão está a fazer com que seja mais difícil para elas interagir com os seus pares”.
Os vídeo-jogos também são responsáveis pelo aumento de agressividade, mau-humor, e pelo incentivo indirecto à prática de comportamentos de risco, sugere um estudo realizado pela psiquiatra Sonya S. Brady, da University of Califórnia e por uma colega, que analisaram a reacção de cem jovens com idades entre os 18 e os 21 anos, aos vídeo-jogos Grand Theft Auto III, e The Simpsons: Hit and Run. E verificaram que “quando os homens jogavam o jogo mais violento, Grand Theft Auto, tinham mais emoções negativas e sentimentos hostis” do que quando jogavam o The Simpsons: Hit and Run. E não só. Os jovens que jogavam o jogo mais violento apresentaram mais atitudes permissivas sobre o uso de álcool e marijuana. É neste contexto que as investigadoras deixam um alerta: “os vídeo-jogos não só influenciam a agressividade, mas também podem influenciar as atitudes relacionadas com os comportamentos de risco”, comprometendo, nalguns casos, a cooperação social entre os jovens.
Em causa está igualmente, de acordo com um outro estudo, a saúde cardiovascular das crianças, uma vez que as crianças que mais vêem televisão são as que mais comem e têm um maior índice de massa corporal.

Daniela Gonçalves