Jornal de Medicina e Saúde

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19 janeiro 2006

Um em cada 200 portugueses sofre de epilepsia
Doença é alvo de estigma social


Discriminação relativamente à epilepsia, encontra-se associada ao desconhecimento das pessoas face à doença, explicou o o Presidente da Liga Portuguesa contra a Epilepsia, o neurologista, Lopes Lima, na conferência de imprensa, de dia 18, em Lisboa
Um em cada 200 portugueses sofre de epilepsia e esta doença neurológica é ainda estigmatizada socialmente, afirmou, ontem, numa conferência de imprensa, o Presidente da Liga Portuguesa contra a Epilepsia, o neurologista, Lopes Lima, noticiou a LUSA.
“Há muitos estigmas e ideias erradas relacionadas com a epilepsia”, lamentou o especialista, que explicou que a doença “não é contagiosa, não é causada por forças sobrenaturais, não é um castigo e não é perigosa para as outras pessoas”. Na origem deste estigma social relativamente à epilepsia, encontra-se, segundo Lopes Lima, o desconhecimento das pessoas face à doença. E o rosto desta forma de encarar a epilepsia “leva frequentemente à discriminação de pessoas com epilepsia pela família, escola, empregadores e pela própria comunidade”.
Nelson Ruão, de 32 anos, engenheiro mecânico, casado e com um filho, soube que tinha epilepsia aos 22 anos, e aprendeu a conviver com a doença, com o auxílio da medicação. Segundo relatou na conferência de imprensa sobre epilepsia, “não entrou em crise psicológica”, e para tal, foi crucial o apoio da família. No entanto, acrescentou que a sua doença não é conhecida no seu trabalho, já que receia “ser alvo de discriminação”.
Isto porque, continuou, conhece casos de pessoas que sofrem de epilepsia, que foram despedidas quando se descobriu que tinham a doença.
A epilepsia caracteriza-se pela ocorrência de “crises que são uma alteração do comportamento do cérebro”, motivada por uma descarga eléctrica cerebral anormal e excessiva, esclareceu Lopes da Silva. A população com mais de 65 anos constitui, actualmente, o principal grupo vulnerável ao desenvolvimento da epilepsia, tendo por base, o aumento da longevidade. Mas, antigamente, a doença desenvolvia-se mais frequentemente na infância e na adolescência, acrescentou.
As crises epilépticas podem ser de três tipos: as generalizadas – que se caracterizam por várias manifestações como contracções musculares, olhar parado ou postura rígida - , as parciais simples, em que o doente não fica inconsciente durante a crise, e as parciais complexas, em que o doente não se apercebe que está a ter uma crise, e pode ter um comportamento estranho.
Traumatismos cranianos, de parto, certas drogas ou tóxicos, acidente vascular cerebral, problemas cardiovasculares, e doenças infecciosas ou tumores são as principais causas do desenvolvimento da epilepsia.
Estima-se que, em Portugal, 50 mil pessoas tenham epilepsia, um número que se eleva para os 50 milhões de pessoas se consideramos a prevalência desta doença no mundo. Em Portugal, 65 por cento dos doentes têm o seu quadro clínico controlado, através do recurso à medicação, que apresenta, segundo Lopes da Silva, cada vez menos efeitos secundários.

Daniela Gonçalves