Jornal de Medicina e Saúde

Blogue dedicado ao jornalismo em Medicina e Saúde, com artigos, entrevistas e notícias sobre investigação científica e o estado da Saúde em Portugal e no mundo.

17 abril 2006

Dia Mundial da Hemofilia
Falta de “linhas orientadoras” gera assimetrias no tratamento em Portugal

O Dia Mundial da Hemofilia assinala-se, hoje, com a tónica de acção “no tratamento para todos”, ou seja, na defesa do acesso de todos os doentes a um tratamento seguro e eficaz”, lema e meta escolhidos, este ano, pela Federação Mundial de Hemofilia. Este objectivo não foi, no entanto, ainda atingido, em Portugal, devido à desigualdade de resposta à doença nas várias regiões do país, revela a Associação Portuguesa dos Hemofílicos (APH). Situação explicada pela inexistência de “linhas orientadoras” para esta doença, explica Lurdes Fonseca, vice-presidente da APH.
Em Portugal, há cerca de 700 hemofílicos notificados, no entanto, este número deverá ser muito superior. Na base do problema está a inexistência de um recenseamento nacional desta doença no nosso país, justifica Maria de Lurdes Fonseca. A responsável alerta mesmo que “pode acontecer que muitos hemofílicos não saibam que têm a doença, nem estejam notificados”.
Segundo afirma, esta lacuna está desajustada da recomendação que o Conselho da Europa fez, em 1980, relativamente ao recenseamento nacional do número de hemofílicos em todos os países europeus. é neste contexto que Lurdes Fonseca solicita ao executivo português que “avance com esta medida”, noticia, hoje, a TSF.
A hemofilia é uma deficiência hereditária na coagulação do sangue, rara, que afecta cerca de 400 mil pessoas no mundo, não tendo sido descoberta até à data qualquer cura. É uma doença quase exclusivamente masculina, que origina hemorragias frequentes, sobretudo a nível articular e muscular.
“Lutar pelos melhores produtos de tratamento e por mais centros de tratamento da hemofilia» é outra das exigências que se ouvem, hoje, Dia Mundial da Hemofilia.
Para assinalar o dia de hoje, a APH vai estar em Lisboa e no Porto a desenvolver campanhas de sensibilização, através de folhetos, boletins e brochuras, para informar toda a “comunidade”.

Daniela Gonçalves

12 abril 2006



Jornal gratuito de Saúde

O Saúde Semanário chegou, ontem, às mãos de milhares de indivíduos residentes nas linhas de comboio de Cascais e Sintra, e no Porto. O novo jornal gratuito, ao contrário dos já existentes generalistas, Metro e Destak, aposta na área da Saúde, fazendo a ponte com outros temas sociais de relevo. “Proporcionar uma informação fidedigna e científica, elaborada por uma equipa multidisciplinar de profissionais de saúde com créditos firmados, bem como por profissionais de media”, é a principal meta desta publicação semanal, explica a directora, Mafalda Vaz Pinto. A gripe aviaria, o impacto da saliva na saúde oral, os afrodisíacos, os implantes mamários, e as relações das crianças com a tv, foram os principais temas abordados no primeiro número do Saúde Semanário. A tiragem deste número foi 60 mil exemplares, que chegaram aos centros de saúde, hospitais, clínicas, farmácias, escolas, faculdades e aos comboios das linhas de Cascais e Sintra.
Daniela Gonçalves
Créditos da imagem: http://www.saudesemanario.com/, 12 de Abril de 2006.

07 abril 2006



Dia Internacional da Saúde
Faltam quatro milhões de profissionais no mundo

África é o continente mais carente ao nível de profissionais de saúde, revela o relatório da Organização Mundial de Saúde. Os dados foram divulgados, hoje, Dia Internacional da Saúde

Os cuidados de saúde primários não chegam a mais de mil milhões de pessoas no mundo. A situação é agravada pela falta de quatro milhões de profissionais, sobretudo, médicos e enfermeiros, estima a Organização Mundial de Saúde (OMS), que vê a formação e planificação de recursos humanos no sector, como a principal resposta ao problema existente. Os números que constam no estudo da OMS foram conhecidos, hoje, Dia Internacional da Saúde.
Os países mais pobres continuam a ser os que apresentam mais necessidades em termos de profissionais de saúde, faltando mais de metade de profissionais, revela o relatório da OMS. Neste contexto, em 57 países, não é possível vacinar as crianças e prestar cuidados pré-natais e tratamentos a doentes com SIDA, paludismo e tuberculose.
África é o continente mais carente a este nível, sendo considerado pela OMS, o epicentro da crise mundial, noticiou, hoje, a TSF. Isto porque, em média, há 2, 3 profissionais de saúde para cada mil pessoas, enquanto que na Europa, a proporção é quase dez vezes superior, e nos E.U.A, ainda maior.
Um elevado número de mortes originadas por doenças infecciosas ou simples complicações na gravidez e parto são o rosto mais visível deste cenário. Situações que se poderiam evitar se não existissem carências ao nível de profissionais de saúde nestes países, sugere a OMS.
Preocupante é igualmente o desfasamento entre o crescimento mundial da população e a estagnação ou redução do número de profissionais de saúde, que são, actualmente, 60 milhões em todo o mundo. Um problema que é acentuado pela concentração destes profissionais, nos países ricos e nos centros urbanos de grande dimensão. Até porque se tem assistido a fluxos migratórios de profissionais de saúde dos países em desenvolvimento para o estrangeiro, com vista à melhoria do seu nível de vida. Este fenómeno é bem visível no Gana e nas Filipinas, países que “exportam” enfermeiros.
Formar e planificar os recursos humanos na área da saúde é, segundo a OMS, a estratégia a adoptar para solucionar o problema ao nível das carências ao nível de profissionais de saúde, sobretudo nos países mais pobres.

Daniela Gonçalves
Créditos da fotografia:

05 abril 2006


Estudo publicado pelo Journal of the American Medical Association
Corte calórico de 25 por cento na dieta alimentar pode atenuar o envelhecimento

A diminuição de cerca de 25 por cento do consumo diário de calorias durante seis meses pode retardar o envelhecimento dos seres humanos, exercendo uma acção positiva ao nível de vários dos seus indicadores bioquímicos e celulares. A conclusão é de um estudo publicado, hoje, pelo Journal of the American Medical Association (JAMA).
Esta investigação é importante como ponto de partida “para futuros estudos que visem determinar os efeitos a longo prazo da restrição de calorias nos humanos e saber se essa abordagem permite prolongar realmente a duração da vida”, explicou John Holloszy, professor de Medicina na Universidade de Washington. No entanto, segundo os resultados deste estudo e daqueles que foram obtidos, a partir de outros realizados com animais, o papel da redução prolongada do consumo de calorias interfere com “certos indicadores bioquímicos ligados ao envelhecimento”.
Neste último estudo realizado por uma equipa do Centro Biomédico de Pennington em Baton Rouge (Louisiana), participaram homens e mulheres sedentários com idades compreendidas entre os 25 e os 50 anos, que reduziram o consumo de calorias em 25 por cento durante de seis meses. Após o período de seguimento desse programa de dieta alimentar, os indivíduos apresentaram níveis de insulina mais baixos em jejum e temperatura do corpo mais baixa, comparando com outros grupos testemunha, noticiou, hoje, a LUSA.
Foram igualmente aferidos menores lesões por oxidação, que são indicadores associados ao envelhecimento celular. “A redução destes indicadores bioquímicos da longevidade através da restrição de calorias apoia a teoria segundo a qual uma restrição do consumo de calorias retarda o metabolismo para além do nível correspondente a uma simples redução da massa corporal”, justificaram os investigadores. Mas, ressalvam que é necessária a realização de mais investigação mais longa, para aferir se o seguimento deste plano de dieta alimentar reduz o processo de envelhecimento das pessoas.
No editorial que acompanha o estudo, é salientada por Luigi Fontana, da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado de Washington, a relação entre obesidade e inflamação crónica. O investigador afirma que as pessoas que têm excesso de peso apresentam níveis de inflamação crónica mais elevados do que as mais magras.
Natural é que a redução de massa corporal aumente a longevidade das pessoas, dado os seus efeitos benéficos na prevenção de doenças ligadas ao envelhecimento, como a diabetes e a aterosclerose.
A mesma realidade foi percepcionada, a partir de estudos com ratos e ratinhos de laboratório realizados há mais de dez anos, que viram a sua esperança máxima de vida subir 30 por cento. Isto porque ficaram menos susceptíveis em relação ao desenvolvimento do cancro e da aterosclerose.

Daniela Gonçalves

04 abril 2006


Investigação sobre os Efeitos dos Media nas crianças
Exposição excessiva a programas e vídeo-jogos violentos é prejudicial

O excessivo visionamento televisivo de programas violentos e interacção com jogos de vídeo do mesmo tipo comprometem o desenvolvimento social e físico das crianças, sugerem alguns investigadores.
“Descobrimos que quanto mais televisão elas vêem, menos tempo gastam com os seus amigos,” explica David S. Bickham, investigador do Center on Media and Child Health da Harvard School of Public Health, muito embora, segundo afirma, “esta relação só seja verdadeira” no caso da televisão violenta.
Segundo outro estudo, os vídeo-jogos violentos podem ser prejudiciais para as crianças. Na base desta influência, está a sugestão de comportamentos de risco, a partir dos conteúdos dos jogos de vídeo, que incluem, frequentemente, imagens e linguagem sexuais explícitas, não constando esta caracterização de jogo no rótulo do mesmo.
Estes estudos inseridos na área dos efeitos dos media nas crianças foram publicados no Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine de Abril, e foram citados, ontem, pela Reuters Health. Bickham e um outro colega estudaram o impacto do visionamento televisivo de programação violenta na integração social de 1.356 crianças, com idades compreendidas entre os 6 e os 8 anos.
Os investigadores constataram que existe uma relação entre os níveis de isolamento social entre as crianças e os seus elevados níveis de exposição a programas televisivos violentos. E há, segundo afirmam, um efeito da “televisão violenta” nas crianças que se traduz no aumento da agressividade, e que se encontra intimamente ligado ao de isolamento. Ou seja: “As crianças estão a ver televisão violenta, estão a tornar-se mais agressivas, e essa agressão está a fazer com que seja mais difícil para elas interagir com os seus pares”.
Os vídeo-jogos também são responsáveis pelo aumento de agressividade, mau-humor, e pelo incentivo indirecto à prática de comportamentos de risco, sugere um estudo realizado pela psiquiatra Sonya S. Brady, da University of Califórnia e por uma colega, que analisaram a reacção de cem jovens com idades entre os 18 e os 21 anos, aos vídeo-jogos Grand Theft Auto III, e The Simpsons: Hit and Run. E verificaram que “quando os homens jogavam o jogo mais violento, Grand Theft Auto, tinham mais emoções negativas e sentimentos hostis” do que quando jogavam o The Simpsons: Hit and Run. E não só. Os jovens que jogavam o jogo mais violento apresentaram mais atitudes permissivas sobre o uso de álcool e marijuana. É neste contexto que as investigadoras deixam um alerta: “os vídeo-jogos não só influenciam a agressividade, mas também podem influenciar as atitudes relacionadas com os comportamentos de risco”, comprometendo, nalguns casos, a cooperação social entre os jovens.
Em causa está igualmente, de acordo com um outro estudo, a saúde cardiovascular das crianças, uma vez que as crianças que mais vêem televisão são as que mais comem e têm um maior índice de massa corporal.

Daniela Gonçalves