Jornal de Medicina e Saúde

Blogue dedicado ao jornalismo em Medicina e Saúde, com artigos, entrevistas e notícias sobre investigação científica e o estado da Saúde em Portugal e no mundo.

31 março 2006


Dia do AVC - Estudo em Portugal deixa alerta
Treze em cada cem homens e oito em cada cem mulheres vão ter um AVC

O AVC é a principal causa de morte em Portugal, atinge em média três pessoas por hora, 54 por dia e cerca de vinte mil por ano. Os números não são novos, mas voltam a ser lembrados, em tom de alerta, hoje, Dia do AVC

Treze em cada cem homens e oito em cada cem mulheres, com 54 ou mais anos, residentes em Portugal, vão sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), até 2016, revela um estudo realizado com 9000 indivíduos, que foi divulgado, hoje, Dia do AVC.
As conclusões têm por base a campanha “Saúde Sobre Rodas”, promovida pela Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC) e pelo Instituto de Reumatologia (IPR), que chegou numa unidade móvel a várias regiões de Portugal, durante 2005.
Informar as pessoas sobre o que é o AVC, bem como a avaliação do seu risco, foram as principais metas da “Saúde Sobre Rodas”. No ano passado, os profissionais de saúde receberam mais de 9000 pessoas na unidade móvel da campanha que se instalou junto a mais de 70 centros de saúde.
Os resultados do estudo são preocupantes em termos de saúde pública, já que, dos 8.896 inquiridos, 13 por cento dos homens e 8,2 por cento das mulheres com 54 ou mais anos vão ter um AVC nos próximos dez anos, noticia, a LUSA, hoje.
As populações do Alentejo são as que apresentam um maior risco de AVC, indica o estudo, que coloca o homem numa situação de maior vulnerabilidade à doença relativamente à mulher.
Na base do problema encontra-se a hipertensão arterial, que constitui um dos principais factores de risco de AVC. Constatou-se, a partir da avaliação dos valores de tensão arterial que mais de metade dos hipertensos (grau um) não estão a fazer tratamento, e consequentemente, não controlam a sua tensão arterial.
Preocupante é igualmente o caso de quase metade dos hipertensos de grau II que afirmaram não estar a seguir qualquer terapêutica, e daqueles que tendo a mesma situação clínica não têm a tensão arterial controlada através do uso de medicação contra a patologia.
O AVC é a principal causa de morte em Portugal, atingindo em média três pessoas por hora, 54 por dia e cerca de vinte mil por ano. E é também um dos principais factores de internamento hospitalar no nosso país.

Daniela Gonçalves
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30 março 2006



Estudo publicado no The Lancet Oncology
Antidepressivos de tipo SSRI podem reduzir risco de cancro do intestino


O uso de antidepressivos de tipo SSRI, tais como o Zoloft e o Prozac parece estar ligado ao menor risco de desenvolvimento de cancro do cólon e recto, confirmando os resultados de estudos realizados com animais. A conclusão é de uma investigação realizada por Jean-Paul Collet e os seus colegas do Sir Mortimer B. Davis Jewish General Hospital, em Montreal, e foi publicada no jornal The Lancet Oncology.
Os investigadores compararam o uso de antidepressivos em doentes com ou sem cancro do cólon e recto. A abordagem com o uso de antidepressivos tricíclicos, baseou-se na análise de 6.544 doentes com cancro do cólon e recto e de 26.176 sujeitos de comparação. A abordagem SSRI centrou-se no estudo de 3.367 doentes com cancro e em 13.468 sujeitos de comparação, noticiou a Reuters Health, na Segunda-feira.
Os doentes que tomaram elevadas doses diárias de antidepressivos de tipo SSRI, nos últimos anos, viram o seu risco de desenvolverem cancro colorectal diminuir em 30 por cento, face aos que não tomaram estes medicamentos. Já o consumo de doses elevadas deste tipo de fármaco num passado distante parece não ter efeitos ao nível do risco, o mesmo sucedendo com o de antidepressivos tricíclicos.
“Para o nosso conhecimento , este é o primeiro estudo epidemiológico a relatar uma associação entre o uso de SSRI e o reduzido risco de cancro colorectal”, afirma a equipa de Collet., que sugere, no entanto, a realização de mais estudos versando sobre este relação.
É neste contexto que Henrik Toft Sorensen, do Aarhus University Hospital na Dinamarca, vê a conclusão deste estudo com cautela, referindo que, até haver uma certeza definitiva, “os clínicos não deverão considerar o uso de SSRI unicamente”. Isto porque devem, antes de mais, prevenir o cancro do cólon e recto.

Daniela Gonçalves
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28 março 2006

Entrevista
Alexandre Castro-Caldas, neurologista e director do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa

“Os doentes com Parkinson devem ser acompanhados sempre pelo mesmo médico”

A doença de Parkinson é uma disfunção do sistema motor, que atinge principalmente indivíduos com mais de 55 anos. O acompanhamento do doente pelo mesmo médico e a interacção com a Associação de Doentes com Parkinson, são os dois principais conselhos que Alexandre Castro-Caldas, neurologista e director do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, dá aos doentes.

Daniela Gonçalves - A doença de Parkinson é uma disfunção do sistema motor que, à medida que progride, acaba por comprometer a autonomia do doente. O que está na base desta doença?

Alexandre Castro Caldas - é um fenómeno a nível molecular e celular, que ainda é hoje pouco compreendido. Há umas certas células produtoras de dopamina que, a partir de um dado momento, começam a morrer precocemente. Existem grupos específicos e muito pequenos em que se encontra um traço genético que justificaria eventualmente aquela situação. Há outras situações em que se encontram tóxicos associados a essa perda celular.
Descobriu-se que havia agentes exteriores que poderiam provocar a Doença de Parkinson, quando um toxicodependente sintetizou uma substância, o MPTP, no momento em que estava a preparar as substâncias para se injectar. O MPTP originou um quadro idêntico à Doença de Parkinson por degenerescência aguda das células envolvidas na produção de dopamina.

D.G. -Como se faz o diagnóstico desta doença?

A.A.C - Faz-se observando o doente e do ponto de vista neurológico.

D.G. - Quais são os seus sintomas?

AC.C. - O primeiro é a lentificação do movimento, quer na expressão da marcha, do gesto, e da escrita que fica micrográfica. O segundo sintoma principal é a rigidez muscular e, finalmente, seguido do tremor. A perda dos reflexos de equilíbrio, problemas de obstipação e de tensão arterial são outros sintomas da doença. No domínio mental, há também alterações de personalidade. O doente fica muito egocêntrico, factor que dificulta a sua relação com a família. Ele é capaz de chamar várias vezes um familiar durante a noite para o ajudar a virar-se na cama, e não perceber que está a cansar o outro. Há também uma lentificação do processamento da informação.

D.G. -A doença de Parkinson pode gerar uma demência?

A.C.C. - Sim, existe um pequeno grupo de doentes que se demenciam (30 por cento dos doentes). As alterações mentais podem surgir também do tratamento. Enquanto que na evolução da doença, pode suceder a perda das faculdades intelectuais, à semelhança do que se verifica com a doença de Alzheimer, os efeitos dos medicamentos originam muitas vezes psicoses, o doente começa a ter alucinações relacionadas com o tratamento.

D.G. - Qual o grupo de risco da doença de Parkinson?

AC.C. - O grupo de risco da doença de Parkinson é composto por indivíduos com idades acima dos 55 anos. Não se registam diferenças significativas de prevalência da doença, entre homens e mulheres.

D.G. -Que tipo de acompanhamento deve ter o doente com Parkinson?

A.C.C - Há dois acompanhamentos a considerar e que são, por um lado, o tratamento farmacológico e, por outro, um acompanhamento com vista à integração social do doente e manutenção da sua actividade.
Existe uma Associação de Doentes com Parkinson que tem um papel social importante, a partir da realização de várias reuniões com familiares, onde há o esclarecimento sobre o que é a doença e acerca da melhor forma de lidar com ela.

D.G. - Quais são as consequências da existência de um doente com Parkinson no seio de uma família?

A.C.C - é fundamental ajudar o doente e a família a viverem. A doença de Parkinson é uma doença crónica que se arrasta durante vários anos, e que compromete as expectativas das pessoas da família relativamente ao futuro, embora a esperança de vida do doente com Parkinson seja muito semelhante à das outras pessoas. Nos dez primeiros anos, a vida pode ser bastante razoável.
Há no entanto, algumas limitações, sobretudo, no caso dos doentes em estádios mais avançados da doença.
Quando a doença aparece em jovens, aí é mais complicado, as coisas complicam-se em termos de expectativas de futuro, não sendo, no entanto, esta situação comum

D.G. - Em que consiste a deep brain stimulation ?

AC.C. - é a implantação de um estimulador numa zona específica do cérebro, em casos muito bem seleccionados, não é para todos os casos, e o doente tem que ser muito bem acompanhado. Trata-se de uma cirurgia. O estimulador tem controlo remoto, e consegue reduzir os sintomas. Ao estimular aquela zona do cérebro, impede o circuito de funcionar e liberta os movimentos. Há uma modificação do circuito eléctrico e este passa a funcionar melhor. O balanço errado entre os circuitos no cérebro é que provoca os sintomas.

D.G. - Em certos casos, é necessário que o doente se submeta à palidotomia. Quais são essas situações?

AC.C. - A palidotomia é uma cirurgia em que se faz uma pequena lesão no cérebro, e que melhora sobretudo o tremor. Actualmente, aplica-se cada vez menos, graças ao maior recurso à estimulação cerebral profunda.

D.G - Actualmente, ainda não se pode avançar com precisão as causas desta doença, sendo apenas equacionadas algumas hipóteses, como por exemplo, a da influência de factores ambientais, como as toxinas, no desenvolvimento de Parkinson. Qual o grau de fiabilidade desta hipótese?

A.C.C - Há dados que sugerem que as pessoas que lidam com pesticidas têm maior probabilidade de virem a desenvolver a doença, bem como aquelas que bebem água do poço. São apenas sugestões, mas que devem servir de base à prevenção.

D.G - Considera que o implante cerebral desenvolvido pelos investigadores da University of Alabama pode atenuar os sintomas desta doença?

A.C.C - Sim, já que algumas células da retina são dopaminérgicas. Não nos esqueçamos que o olho é uma extensão do cérebro. Trata-se de fazer um implante no local onde morreram as células, pondo lá células novas. As primeiras experiências remontam já aos anos 80. No entanto, é necessário ter cautela na sua generalização, pois cada caso é um caso. Actualmente, tem-se esperança nas futuras experiências com células estaminais que são percursoras de neurónios, mas ainda não há nada de definitivo.

D.G. - Que conselhos o senhor Professor dá aos doentes com Parkinson?

AC.C. - O primeiro é que os doentes com Parkinson sejam acompanhados sempre pelo mesmo médico, para que haja o maior conhecimento da sua personalidade, que facilite a abordagem terapêutica. O cérebro é um orgão muito conservador que não gosta de mudanças de terapêuticas, daí que seja fundamental que o doente não mude de médico.
Em segundo lugar, é crucial que o doente interaja com Associação de Doentes com Parkinson. No seu seio, encontram-se pessoas com os mesmos problemas que se podem ajudar umas às outras.

D.G - Existe alguma forma de prevenção da doença de Parkinson?
A.C.C - Como ainda não se sabem ao certo quais são os factores desencadeantes, é difícil falar com certeza em formas de prevenção, muito embora se pense que as pessoas não devam beber água dos poços.

Perfil Profissional:
Alexandre Castro-Caldas, actual Director do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, foi até Fevereiro de 2004 Professor Catedrático de Neurologia na Faculdade de Medicina de Lisboa e Director do Serviço de Neurologia do Hospital de Santa Maria. Fez a sua licenciatura e o seu doutoramento na Faculdade de Medicina de Lisboa, onde iniciou a sua carreira em 1974. Foi responsável pelo Laboratório de Estudos de Linguagem até 1998 e organizou o Centro de Neurociências de Lisboa em 1990. Foi Presidente da International Neuropsychological Society (2000-2001). As suas publicações incluem um livro de texto para os estudantes e mais de 100 artigos em revistas internacionais, tais como: Brain, Neurology, NeuroImage, Journal of Cognitive Neurosciences, JINS, e inúmeros capítulos em livros nacionais e internacionais. É membro de diversas sociedades internacionais e consultor de muitas revistas nacionais e estrangeiras. O seu principal interesse cientifico relaciona-se com as Neurociências Cognitivas e com as doenças do Movimento.


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Daniela Gonçalves

22 março 2006


Estudo do Brooklyn College of the City University of New York
Visionamento de telenovelas e talk shows pode contribuir para o declínio cognitivo das mulheres idosas

O visionamento televisivo diário de talk shows e telenovelas pode ser responsável pelo menor desempenho das mulheres idosas nos testes de memória, atenção e de outras capacidades cognitivas. A sugestão é de um estudo divulgado na Segunda-Feira, pelo Southern Medical Journal, citado pela Reuters Health.
Apesar de não existirem certezas relativamente à existência de uma relação directa entre o consumo televisivo diário e a quebra nas funções cognitivas, os investigadores verificaram que existe uma relação entre as escolhas televisivas e as funções intelectuais, e que pode ser responsável pelo declínio cognitivo dos mais velhos, sugere Joshua Fogel do Brooklyn College of the City University of New York.
Através da realização do estudo com 289 mulheres idosas sem demência, apurou-se que as que preferiam os talkshows e as telenovelas tinham um desempenho dos testes de memória, atenção e destreza mental inferior ao das suas colegas que apreciavam mais outro tipo de programa.
A novidade é que as telespectadoras de telenovelas apresentavam um risco sete vezes maior de demonstrarem um défice num dos testes face às que são fãs de notícias, passando esse risco para quase o dobro no caso das que vêem talk shows.
Fogel pensa que, apesar de não haverem certezas definitivas acerca desta relação, os médicos deveriam perguntar aos seus doentes idosos quais são os seus programas televisivos preferidos, identificando assim aqueles que poderão ser responsáveis pelo declínio cognitivo, e tentando a partir desse momento, proteger os doentes dos seus efeitos.
Uma vida social activa e a prática de exercício físico podem ser duas boas ferramentas para retardar o declínio das funções cognitivas. Os resultados do estudo são, de acordo com Fogel, “inteiramente robustos”, e tiveram por base a realização de questionários e testes cognitivos aplicados em 289 mulheres saudáveis, com idades compreendidas entre os 70 e os 79 anos.

Daniela Gonçalves
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20 março 2006



Dia Mundial da Poesia
Delegados de propaganda poética mostram que “a poesia faz bem à saúde” em Santo Tirso

A poesia pode estar ao alcance de todos, e “serve”, segundo Alberto Serra, promotor da iniciativa “A Poesia faz bem à Saúde”, que se realizará, amanhã, em Santo Tirso, para “adiar a morte”.

O Dia Mundial da Poesia celebra-se, amanhã, e vai ser assinalado em diversas cidades de Portugal. A iniciativa “A Poesia faz bem à Saúde”, que decorrerá em Santo Tirso, sobressairá no plano de actividades previstas para este dia de comemoração.
“Dezenas de pessoas” vão percorrer os lares de Santo Tirso, para divulgar a poesia, afirmou à Lusa, Alberto Serra, jornalista e promotor da iniciativa, “cujo ponto alto terá lugar” no Hospital da cidade.
“Levar aos doentes o afecto das palavras”, e melhorar a sua condição de saúde, é, segundo o responsável, a principal meta, que será assegurada por duas equipas – uma de delegados de propaganda poética e outra de declamadores.
Aos doentes será dado o Poemax XR, um medicamento genérico que vem num frasco, com uma bula com a posologia, contendo as contra-indicações e os efeitos secundários, explicou Alberto Serra.
O medicamento é “especialmente indicado para casos de prolongada tristeza, depressões, solidão, práticas consumistas, impaciência, insónias, teledependências e hipossensibilidade”, e “ensina a viver e a sonhar”, diz a bula.
O frasco, embalado como um medicamento normal, contendo poemas de vários autores, será apresentado pelos delegados de propaganda poética aos médicos do Hospital de Santo Tirso.
António Gedeão, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Alexandre O'Neill, Mário Cesariny, Manuel Freitas, Jorge Reis- Sá, José Miguel Silva ou Valter Hugo Mãe são alguns dos poetas representados no "medicamento genérico".
O jornalista, que já foi actor e animador cultural, considera que Portugal tem poetas da nova geração que se equiparam em termos de qualidade aos seus congéneres europeus, acrescentando que são “poetas de craveira internacional, os melhores do mundo”.
Esta iniciativa pretende igualmente mostrar que a poesia pode estar ao alcance de todos, não se circunscrevendo aos salões e aos recitais, e que “serve”, segundo Alberto Serra, para “adiar a morte”.
Manuel António Pina, autor do livro “Cuidados Intensivos”, será homenageado, no encerramento da sessão no Hospital de Santo Tirso, que terá a participação do ensaísta e crítico literário Eduardo Prado Coelho.
O Dia Mundial da Poesia, instituído na 30 ª Conferência Geral da UNESCO, em 2000, será assinalado com outras iniciativas em Lisboa, Porto, Évora e Loulé.

Daniela Gonçalves


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09 março 2006



Estudo publicado na Archives of General Psychiatry
Hereditariedade pode explicar maioria dos casos de Alzheimer


A hereditariedade pode ser responsável pela maior parte dos casos de doença de Alzheimer, revela um estudo realizado com gémeos, divulgado pela revista Archives of General Psychiatry.
Segundo os resultados da investigação, dois terços dos adultos com mais de 65 anos com demência sofrem de Alzheimer, e prevê-se que aumentará a incidência da doença, em consonância com o crescimento da população adulta, noticia, hoje a LUSA. Os factores de risco genético estão identificados, muito embora apenas uma parcela reduzida de casos possam ser explicados por alterações de genes específicos.
Constatou-se igualmente que factores ambientais podem explicar a ausência desta doença neurodegenerativa progressiva e incurável, em gémeos idênticos (monocigóticos). No entanto, os factores hereditários explicam a doença em 58 a 79 por cento dos casos, mostra o estudo dos gémeos, que envolveu 11.884 indivíduos suecos.
Esta relação é ainda mais evidente quando se compara a diferença entre o período de desenvolvimento da doença de Alzheimer em gémeos idênticos e não idênticos (3,66 anos, no primeiro caso, e 8,12, no segundo.)

Daniela Gonçalves
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06 março 2006



Eurobarómetro sobre “Os erros Médicos”
Metade dos portugueses receiam prática clínica

Metade dos portugueses acredita poder vir a ser alvo de erros médicos e um pouco mais pensa que essa situação pode ocorrer nos hospitais de Portugal, muito embora dois terços confiem no trabalho desenvolvido pelos profissionais de saúde, divulga um eurobarómetro da Comissão Europeia (CE).
Segundo o estudo da CE, o primeiro inquérito a nível europeu sobre “Os erros médicos”, 50 por cento dos inquiridos portugueses receiam ser vítimas de enganos médicos e 59 por cento é pessimista quanto à probabilidade de serem cometidos erros graves, por parte de médicos e outros profissionais de saúde, como os enfermeiros, nos hospitais portugueses.
Com uma visão mais optimista e confiante estão cerca de 67 por cento dos inquiridos, que apresentam uma opinião favorável em relação ao trabalho dos médicos, enfermeiros e dentistas, noticiou a LUSA, citada, hoje, pela Saúde na Internet.
Os resultados do Eurobarómetro tiveram por base 29.154 entrevistas a indivíduos com mais de 15 anos de 30 países, incluindo os 25 estados-membros da União Europeia e os países candidatos e em adesão, nos meses de Setembro e Outubro de 2005. Participaram no estudo 1000 portugueses.

Daniela Gonçalves

Créditos da fotografia: http://www.wise.nhs.uk/sites/serviceimprovementcollab/Picture%20Library/1/_w/doctors_jpg.jpg, 6 de Março, 2006.

05 março 2006



Técnica testada em corações de silicone
Operação ao coração sem abertura do peito pode vir a ser uma realidade


Em breve, poderá ser possível realizar cirurgias ao coração sem abrir o peito do doente. A técnica é inovadora e foi desenvolvida, recentemente, por cientistas do Imperial College of London.
Um programa informático cria uma imagem estática do coração, que é analisada pelo cirurgião, e em simultâneo, o robot que opera o doente interage sincronizado com os batimentos cardíacos.
Geralmente, as intervenções cirúrgicas cardíacas implicam que haja uma paragem obrigatória do coração, e, durante a cirurgia, o sangue tem que circular através de uma bomba externa. A novidade é que agora, o cirurgião opera o doente tendo por base apenas um ecrã, onde é visível o coração parado, embora este continue a sua actividade, noticiou a LUSA, citada pelos Médicos na Internet, no dia 1.
O programa informático, desenvolvido por George Mylonas e pelo cirurgião Rajesh Aggarwal, e que tornou possível a nova técnica cirúrgica cardíaca, sincroniza os movimentos do robot “da Vinci”, em convergência com os batimentos cardíacos.
A nova técnica foi apresentada durante a Conferência de Tecnologias para Equipamentos Médicos, em Birmingham, na Grã-Bretanha, tendo sido apenas testada em corações de silicone, usando um braço mecânico. Abrem-se, contudo, novas perspectivas para a futura expansão e implementação de intervenções cirúrgicas apoiadas nas novas tecnologias, que poderão reduzir o impacto psicológico traumático, característico do tipo de cirurgia cardíaca.

Daniela Gonçalves
Créditos da fotografia:

03 março 2006

Entrevista
Isabel Santana, neurologista e investigadora de Alzheimer, nos Hospitais da Universidade de Coimbra

“A interacção social e a cultura podem contribuir para a saúde das células neuronais”


A Doença de Alzheimer (DA) afecta cerca de 60 mil portugueses, que têm, na sua maioria, mais de 65 anos. A perda de memória é o principal sintoma desta doença neurodegenerativa, que acaba, gradualmente, por comprometer a autonomia dos doentes no seu quotidiano. Isabel Santana, neurologista e investigadora, nos Hospitais da Universidade de Coimbra e na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, defende que a cultura e a interacção social podem ser ferramentas preventivas de Alzheimer, uma doença que é alvo de estigma social.


Daniela Gonçalves - A perda de memória é o principal sintoma da doença de Alzheimer, que afecta cerca de 60.000 portugueses. O que está na base deste défice de memória?

Isabel Santana - A perda de memória deve-se à morte de células no hipocampo e nalguns núcleos profundos do cérebro, estrutura importante nos processos de memória recente. A perda destas células tem como consequência a perda de determinadas substâncias químicas, uma delas é a acetilcolina. Isto porque a memória é uma função biológica que depende de substratos bioquímicos e celulares, que basicamente reforçam a comunicação entre células através de terminais sinápticos.

D.G - Em que é que se concretiza, no quotidiano dos doentes, esta perda de memória?

I.S - A doença manifesta-se pela perda de informação recente, ou seja, os doentes mantêm as suas memórias e relações familiares antigas, mas perdem memórias recentes, como por exemplo, mensagens, acontecimentos e por vezes mesmo o conhecimento da existência de elementos mais novos na família. Esquecer um recado do telefone ou da marcação de uma consulta são exemplos de situações comuns que podem acontecer no quotidiano dos doentes.

D.G - O Defeito Cognitivo Ligeiro amnésico (alteração isolada da memória) pode ser um indicador e um sintoma inicial de futuro desenvolvimento da doença de Alzheimer. Como é que ele é avaliado ou medido?

I.S - Sim. Os estudos indicam que, do total dos doentes que sofrem de defeito cognitivo ligeiro amnésico, cerca 10 a 15 por cento/ano vão apresentar outros défices cognitivos (evolução para demência) ou seja, no intervalo de 6 anos, cerca de 80 por cento desenvolvem uma forma de demência, a maioria Doença de Alzheimer.
Existem diferenças significativas entre estas duas entidades, a mais importante será o grau de autonomia/independência funcional, que existe no défice cognitivo único e está comprometido na DA. Por critérios de diagnóstico objectivos, um doente que tem apenas um defeito de memória não tem uma demência, mas sim um defeito cognitivo único, designado, ligeiro. A grande maioria dos casos de Alzheimer, apresentará inicialmente uma perda de memória, mas só quando se somam outros défices em pelo menos outra função, como por exemplo, cálculo, orientação no espaço e no tempo, escrita, e o doente deixa de ficar autónomo em actividades mais complexas, é que se pode já falar num síndrome demencial.
As queixas de alterações da memória no dia-a-dia, e a sua confirmação por parte da família ou outras pessoas, são relevantes para a avaliação do doente, e constituem um critério de avaliação do defeito cognitivo ligeiro. Depois, há um exame fundamental na avaliação de qualquer causa de deterioração cognitiva que é realizada por testes neuropsicológicos que avaliam as funções cognitivas (a memória, a linguagem, o cálculo, etc.). Esses testes são “pontuados” e comparados com as pontuações que se consideram normais para determinada idade e escolaridade. É com base nesses valores médios (normalizados ou aferidos) que nós podemos indicar se o indivíduo tem um desempenho normal ou não.

D.G - Que tipo de acompanhamento deve ter um doente com um défice cognitivo ligeiro?

I.S - Esse doente tem indicação para ser seguido e avaliado. Há tratamento sintomático para a demência, mas não há tratamento curativo nem preventivo estabelecido. Existem medicamentos que aumentam a concentração cerebral de certos neurotransmissores e que melhoram a memória e outras funções cognitivas. Por exemplo, alguns medicamentos têm a capacidade de inibir a enzima que degrada a Acetilcolina, aumentando os níveis cerebrais deste neurotransmissor; outro grupo de fármacos interfere na activação de outro neurotransmissor - o glutamato, produzindo tambéwm benefícios sintomáticos. No entanto, não há nenhuma evidência definitiva que estes fármacos retardem a morte celular, e discute-se a sua capacidade para controlar a evolução da doença.

D.G - Existem igualmente alterações de comportamento no doente com Alzheimer. Quais são?

I.S - Os doentes têm personalidades diferentes e isso modela as eventuais alterações do comportamento induzidas pela doença. Mais frequente, na fase inicial da demência, e sobretudo, no Defeito Cognitivo ligeiro, é que os doentes fiquem deprimidos. A depressão tem dois condicionantes importantes, um deles é a percepção dos défices e eventualmente, nas pessoas mais informadas, o receio do doente de vir a ter a Doença de Alzheimer; o outro é biológico, é o resultado de um outro défice bioquímico que existe na doença, a baixa de serotonina, que se sabe estar associado/determinar depressão.
Depois, à medida que a doença vai avançando, aparecem alterações mais complexas de comportamento, tais como a agitação, a ansiedade, a actividade motora repetida (deambulação, mexer e remexer gavetas,etc.), a agressividade, e a psicose. Nesta última categoria de sintomas inclui-se o delírio de roubo, muito frequente, porque os doentes esquecem-se onde colocaram as coisas.

D.G - Quais as consequência dessas alterações de comportamento do doente com Alzheimer, na sua família?

I.S - é um choque muito grande para a família ver que o doente está a perder capacidades, mas as famílias vão-se habituando e adaptando a essa realidade. As alterações do comportamento podem desestabilizar um equilíbrio precário duma família já muito sobrecarregada com a dependência funcional e cognitiva do doente de Alzheimer. Está provado que são a principal causa de institucionalização dos doentes. Por exemplo, um doente que não dorme ou dorme só de dia e está acordado durante a noite, pode tornar-se num elemento desestruturante da família. A doença de Alzheimer tem um impacto familiar e económico muito grande. O doente tem necessidade de acompanhamento permanente, e isto implica a existência de cuidadores formais ou informais ou a institucionalização do doente .

D.G - Em que é que consiste a reabilitação cognitiva e qual o seu principal objectivo?

I.S -. A reabilitação cognitiva é mais eficaz, nas fases precoces da doença; numa fase mais avançada, permite também reorientar as actividades do dia-a-dia e fornecer estratégias para saber lidar com a situação. Por vezes não é fácil envolver o doente, já que muitos não têm capacidade para valorizar os seus défices. No entanto um doente pouco estimulado, sentado o dia todo numa cadeira e não envolvido em actividades perderá mais funções. Em termos biológicos, admite-se que a estimulação cognitiva e a actividade em geral potenciam a estimulação das sinapses existentes entre as células.

D.G - Na sua óptica, as terapias mistas (farmacológicas e cognitivas) são as mais adequadas para controlar os sintomas da doença de Alzheimer?

I.S. - Penso que o ideal é essa combinação. Mas, os medicamentos e a terapia cognitiva são caros, sendo esta última terapia infelizmente apenas acessível a alguns doentes.


D.G . - Sabe-se que o diagnóstico precoce é crucial para retardar a evolução da doença. E em termos de prevenção, o que é que a senhora Professora aconselha os portugueses a fazer?

I.S - As únicas estratégias preventivas que se admite que poderão ser eficazes são estratégias muito precoces de modificação de “estilos de vida” (aplicadas idealmente pelo menos a partir dos 40 ou 50 anos). Uma estratégia confirmada é o treino através da escola – verificou-se que quanto maior for a escolaridade menor é o risco de demência. Depois, no fundo, podemos transpor esse tipo de mecanismos para a toda a vida da pessoa. Quanto mais estimulada do ponto de vista cognitivo estiver a pessoa, mais protegido estará o seu cérebro relativamente à deterioração cognitiva. A interacção social e a cultura são exemplos de estratégias que podem contribuir para a saúde das células neuronais.

D.G - Considera que o Programa da Direcção Geral de Saúde de luta contra a doença de Alzheimer está a ser eficaz?

I.S - Uma intervenção importante nesta altura seria diminuir consideravelmente o preço dos medicamentos sintomáticos, que é muito elevado. Penso que deveria haver uma comparticipação do Estado, com base, evidentemente, em diagnósticos rigorosos.

D.G - A Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de doentes com Alzheimer (APFADA) visa apoiar os doentes e as suas famílias, formar os cuidadores e sensibilizar a sociedade para a questão do doente com Alzheimer. Considera que esta meta tem sido cumprida?

I.S - A APFADA foi o melhor divulgador da doença de Alzheimer em Portugal. Isto porque a sua vocação formativa tem sido cumprida na íntegra. É um parceiro importantíssimo na formação e no apoio aos cuidadores, consciencializando-os que não são os únicos que estão naquela situação, e ensinando-lhes estratégias para saberem lidar com os doentes. Neste contexto, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de doentes com Alzheimer tem tido um papel fundamental.
No entanto, a APFADA deveria ter uma capacidade financeira superior para ter instituições próprias, principalmente, centros de dia, para que os doentes pudessem ser institucionalizados por períodos curtos. Essa capacidade financeira deve vir, em primeiro lugar, pelo associativismo – as pessoas com interesse neste problema (e não só os familiares dos doentes) devem ser envolvidos, devem voluntarizar-se e associar-se.

D.G. - Os doentes com Alzheimer são alvo de estigma social?

I.S - Os doentes e as suas famílias, sofrem de isolamento – muitas pessoas têm receio de não saber lidar com eles, e por isso, as famílias acabam por ficar muito sozinhas. As famílias precisam muito do apoio de todos os amigos.